Talita Rhein

Ser uma pessoa menos interessante me fez bem

Eu já fui uma pessoa mais ligada em estilo. Antes, eu me preocupava com o que eu estava vestindo, como estava meu cabelo e se a mochila combinava com o look ou eu deveria trocar por uma bolsa. Eu conheci muita gente, tanta gente que, quando mudei pra Berlim, já tinha até alguns conhecidos que eu poderia dar rolê.

O que acontece em Berlim é que você pode tanto ser como você quiser, que eu fui me preocupando menos em ostentar um estilo. Eu deixei meu cabelo crescer, desencanei da progressiva, comecei a aceitar meus cachos de novo. Não tava mais preocupada se a roupa combinava, se era estilosa. Eu só queria estar confortável e me sentir à vontade. Esse estilo de vida só aumentou com os anos e eu acabei me tornando uma pessoa menos interessante para muitas pessoas.

Eu fiquei um pouco triste no começo, quando eu achava que eu estava desleixada e não estava me cuidando. Mas, na verdade, eu estava me amando mais do que nunca e me sentindo bem comigo mesma. Para eu perceber que eu estava numa situação melhor agora, 4 anos depois, eu reuni algumas frases que ouvi em Berlim enquanto eu era uma pessoa, vamos dizer, interessante. Ah, lembrando que a maioria das frases foram ditas por brasileiros, tá?

“Todo mundo acha você gorda e feia”, claro que não falaram isso na minha cara, foram passando no telefone sem fio. Gente, eu que me esforçava tanto pra ser bonitinha. Ainda bem que parei!

“Você é muito perifa pra Berlim”, porque eu achava um absurdo as door policies das baladas daqui. Adoro festa de rua, festa que inclui as pessoas, se pá sou muito perifa sim.

“Nossa, nunca gostaria de te ver pelada”.

“Você tem uns amigos muito bizarros”. Quando uns amigos vieram do Brasil passar uns dias em Berlim comigo e meus “amigos” de Berlim acharam tudo bem estranho. Ah, todo mundo era brasileiro, tá?

“Não estou com tempo pra conversar com você”.

“Nunca fomos amigos”.

“Não rola você dormir em casa”. Aparentemente, eu não era uma pessoa confiável.

“Você só tem roupa feia”.

Vou parar por aqui, porque parece conversa de adolescente, mas isso rolou em 2013, quando eu tinha 27 anos. O que eu aprendi é: quanto mais você se importa com o que vão falar, pior para você. Hoje sou mais feliz, sou quem eu sou e tenho bem menos amigos, mas que são ótimas pessoas. Ser uma pessoa menos interessante fez de mim uma pessoa mais feliz!

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