Talita Rhein

Think locally, fuck globally

Todo esse lance de mudar de país é uma parada que cada pessoa sente de um jeito. Isso porque depende muito das circunstâncias que você mudou, de onde você veio, para onde você foi, etc. Eu não posso aqui passar dicas que vão funcionar para toda e qualquer pessoa que vier morar na Alemanha.

Estou cansada de ver gente passando textão de como você deve agir, ser, o que fazer, que você mesmo pode mudar sua vida, que depende somente e apenas de você para que você possa, sei lá, passar a vida viajando, por exemplo. Acho que tem gente que não consegue entender que existem bilhões de pessoas no mundo e que cada um tem um background diferente. Com uma caralhada de gente no planeta, é claro que rolam um monte de tretas e essas tretas rolam porque, essencialmente, as pessoas que deveriam cuidar dos interesses de diversos grupos de diferentes pensamentos e backgrounds está penas cuidando do interesse de um ou poucos grupos.

Um exemplo simples, baseado na minha realidade: eu trabalho de casa. As pessoas não conseguem entender com a mesma facilidade que eu que eu TRABALHO. Eu tenho um EMPREGO, uma empresa pequena e faço freelas. O que acontece muito, e quando digo muito, é MUITO mesmo, é o seguinte:

  • E aí, já arrumou trabalho?
  • Então, eu já trabalho, na real.
  • Sério! Que massa! Onde você trabalha?
  • Eu trabalho pra uma empresa do Brasil.
  • Mas eles tem escritório na Alemanha?
  • Não, eu trabalho de casa.
  • Ah, mas você tá procurando trabalho aí?
  • Não, eu já trabalho.
  • Mas você não quer arrumar um emprego?
  • Eu já tenho um emprego.
  • E dá pra viver trabalhando assim?
  • Super dá, é tranquilo.
  • Mas você não vai procurar um trabalho?
  • Então, eu já trabalho, na real.

E por aí vai, até eu desistir de falar que eu já tenho trabalho. As pessoas, geralmente, acham que eu faço porra nenhuma o dia todo e fico brincando na internet. O que eu posso fazer? Eu poderia explicar: olha, eu trabalho como se fosse na firma, mas eu não preciso ir até a firma. Mas eu não faço isso porque eu acho meu modelo de trabalho diferente e é compreensível que as pessoas não entendam a flexibilidade e achem que é pura vagabundagem.

Eu vou chamar as pessoas que não entendem de burras? Claro que não, eu é que não me proponho a perder tempo explicando. Mas conheço muita gente que trabalha no mesmo modelo que eu e que fala que as pessoas são burras, que não entendem, etc. Ué, como eu vou explicar o sabor da jabuticaba pra alguém que nunca comeu fruta? E como posso chamar ela de burra por não entender? Pois é.

Acho que o que rola no momento é meu mau humor extremo por ver gente como o Putin, o Trump, o Temer, etc. pessoas que claramente pensam em seus grupos de interesse, ocupando cargos que lidam com basicamente todo o  tipo de gente. Será que é difícil entender que pra ser representante de um país, cidade, estado, grupo, você precisa ter paciência para entender o gosto da jabuticaba para cada um. E não pensar que quem acredita no deus da jabuticaba é melhor do que aqueles que acham que jabuticaba e ameixa são a mesma coisa? Tão entendendo meu ponto?

Eu não posso falar que a vida na Europa é muito melhor que no Brasil, eu posso falar que pra mim é melhor. Não dá pra assumir que todo mundo seria feliz morando fora, ou viajando pra caralho, ou trabalhando de casa. As pessoas são diferentes, merecem respeito e, principalmente, precisam entender que elas dividem esse planeta com mais um montão de pessoas que merecem respeito também.

 

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