Talita Rhein

Ser adulto pode ser uma merda

Eu não acredito nessa de “crise dos 30”, eu acho que a vida adulta é uma grande crise em si.

Acho que desde criança eu queria crescer, ser adulta, responsável pela minha vida, não dar satisfações, etc. Eu acredito que uma pessoa só atinge isso quando sai da casa dos pais. É que, antes disso, mesmo sendo os pais mais desencanados do mundo, eles sempre vão dar uma forcinha naquela conta, naquelas roupas sujas, naquela marmita, naquela carona, etc.

Algumas pessoas saem cedo de casa, mas ainda contam com a colaboração da família. Isso não as faz menos adultas, apenas menos responsáveis. Tipo, é mais fácil encarar a vida sabendo que o dinheiro das contas tá garantido.

De qualquer forma, na minha opinião, o grande marco da passagem da vida adolescente para a vida adulta é a primeira vez que você consegue pagar suas contas com seu próprio trabalho e tem que encarar uma caralhada de gente no dia a dia, engolir um monte de sapo, suportar a realidade porque, porra, sem isso, você tá fodido.

Proprietário do apê, contador, chefe, cliente, amigos, e as contas que vencem cada uma em um dia diferente. Ser adulto é administrar tudo isso e continuar com seu lifestyle. Isso parece muito legal quando você tem 14 anos, mas aí, lá pelos 20 e tantos, depois de deixar de ser isento na declaração do imposto de renda, depois de parar de dividir apê com mor galera e comprar seus móveis, ter aquele talão pra pagar todo mês, isso vai ficando muito sem graça.

Na verdade, isso vira uma grande merda. Tem dia que eu fecho os olhos na cama e tento acordar na cama da minha mãe, com 8 anos de idade. Sabe, tipo o “ De repente 30”. Ter uma chance de aproveitar tudo de novo, de consertar umas coisas, de ser o máximo irresponsável (com moderação) que eu puder, aproveitar cada noite de sono, cada falta da escola, cada jogo de videogame, cada rolê pra tomar Tubaína com os Geponis, ler todos gibis da Turma da Mônica que obriguei minha mãe a assinar, fazer todas as atividades do Almanacão de férias.

Claro que não tem só coisa ruim em ser adulto, eu gosto muito do meu trabalho, por exemplo. Eu acho que sou muito privilegiada de poder trabalhar com algo que gosto e viver disso. Mas não foi sempre assim e, tenho certeza, não vai ser para sempre. As pessoas mudam, os gostos mudam, o mercado muda, a política muda, enfim, a vida é mutável.

Eu fiz esse texto como um desabafo, porque eu espero que uma criança ou adolescente que possa ler isso e está desejando muito crescer, sair de casa, ser livre, comer o que quiser, deixar as roupas onde quiser e não dar satisfação pra ninguém, pense bem. Na maior parte da sua vida, você vai ser adulto, e não vai ser fácil.

Olha, mas uma das coisas mais legais de ser adulto, é não ter aquele medo do que os outros possam pensar. Tá, isso pode ter mais a ver com maturidade, mas acho que, normalmente, quanto mais você vive, mais vê que a opinião dos outros é só a opinião dos outros.

Se conhecer melhor é uma das coisas mais legais que pode rolar. Enfim, eu tava escrevendo um post sobre Broad City aqui, mas acabei embalando em outro assunto. O post sobre a série fica pra depois.

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