Talita Rhein

Onde eu vim parar, meu Deus?

Tá permitido chorar de saudade depois de três dias morando fora? Acho que sim. Creio que a saudade aperta mais forte agora e nas datas comemorativas. Também é meio chato acordar e todo mundo no Brasil ainda estar dormindo. De qualquer forma, eu achei muito engraçado que em só três dias eu já tenha passado algumas situações inusitadas. Vou compartilhar:

  • Primeiro dia: logo na imigração, pegamos um agente que devia estar no seu primeiro dia. Ele tinha um cara supervisionando e tava perguntando um monte de coisa pro meu marido. Inclusive perguntou quem era eu e o supervisor dele falou “cara, você já quer saber tudo, hein?”. Todos riram e nós entramos na Alemanha. Chegamos na casa e a dona tava sem as chaves. A porta ficou literalmente aberta e eu fiquei muito na nóia de sair, mesmo assim, saímos. Durante a noite, tava tudo escuro e nebuloso, entramos num parque e tinha uns manos. Passamos por eles e… NÃO ACONTECEU NADA. A galera tava curtindo uma darkzeira lá, sei lá. Estavam sendo jovens e eu passada que aquilo parecia a praça da república à noite, porém sem fedor de xixi e sem o risco de ser roubada e/ou estuprada. Não consegui computar no meu cérebro. Chegamos na casa que tava com tudo aberto e… NÃO ACONTECEU NADA #2.
  • Segundo dia: pegamos as chaves. Chaves automáticas, uau. Que moderno. Saí para procurar escolas de alemão e tudo era caríssimo. Achei uma baratinha e perto, fui lá e o cara que me atendeu disse que eu tinha que marcar uma reunião. Eu falei que queria marcar, ele me deu um cartão e falou pra eu mandar um e-mail marcando. Porra, não dava pra ele abrir a agenda e marcar ali mesmo? Aparentemente, não. Saímos à noite de novo e o portão automático da casa tava fechado. Conseguimos abrir, porém, não conseguimos fechar. Deixamos aberto. Deu medinho, mas tudo bem. Fomos buscar umas roupas que deixamos pra lavar no porão e, quando saímos, tinha dois policiais na porta. Um vizinho achou suspeito o portão estar aberto e duas pessoas andando pela casa. Essas duas pessoas eram eu e o meu marido e a casa é a que alugamos. Todos rimos, a polícia pediu desculpa e foi embora. Eu, rindo de nervoso, não conseguia entender o que rolou. É foda você está cheia de calcinha molhada na mão e a polícia perguntar se você está tentando invadir sua própria casa. Realmente, bem diferente do Brasil. A dona da casa até falou “viu, é por isso que não tem problema deixar a porta aberta”.
  • Terceiro dia: já inconformada com tanta segurança e limpeza, fui procurar algum lugar sujo e fedido pra matar as saudades de São Paulo. Claro que não encontrei, mas fiquei vendo uns clipes de rap de São Paulo e acalmei meu coração. Fomos jantar num restaurante mexicano (risos), passamos no mercado, atravessamos a praça escura cheios de compras, entramos, conseguimos fechar o portão. Bateu uma saudade, chorei um pouquinho, depois passei mais de uma hora falando com as minhas sócias (que são muito amigas minhas), me sentindo bizarra por achar tão anormal essa vida segura e regrada. Pra quem veio do caos, a organização assusta!

Vou tentar trazer um pouco do bairro do Limão pra Wiesbaden, aguardem!

 

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