Talita Rhein

A raiva nossa de cada dia

Que sensação horrível.
Semana passada, um homem me seguiu do metrô Santa Cecília até a farmácia. Lá dentro, ele me puxou pelo braço e falou “que que cê tá comprando aí?”, a menina da farmácia chamou o segurança, que o retirou do local.
Na hora que eu fui pagar, vi que o homem ainda estava lá fora, me esperando. Olhei pro segurança, que saiu junto comigo. Andei alguns metros, o segurança voltou pra farmácia e o homem voltou a me seguir. Andei rápido até meu prédio e o cara ainda tava me seguindo e parou na porta do meu prédio. Depois ele continuou andando.

Uma amiga veio falar comigo depois de ver meu relato online:

nossa meu, eu ando lendo vários relatos de homens perseguindo amigas.
uma amiga postou esses dias de um cara perseguindo ela no hotel, outra numa casa de couchsurnfing, agora você. isso tudo essa semana.
vou colar o relato delas pra você ver.

esse é de uma: “tô sozinha num hotel, comendo no restaurante, revisando textos no meu computador. o cara fica de olho. resolvo subir pro meu quarto, ele acompanha, vem forçando conversa (eu claramente não estou a fim de papo), ele continua, se apresenta, diz que está no quarto ao lado do meu, sozinho. não dou espaço, me tranco. 5 minutos depois ele bate na minha porta, perguntando se não quero conversar. digo que não, que estou ocupada, e fecho a porta. ele volta, com o número do whatsapp dele num pedaço de papel. agradeço, já assustada, e espero ele sumir pra correr na recepção e pedir socorro. já estão todos avisados, mais uma interação e devo ligar pro número 222. e evitar sair do quarto. apenas mais um dia sendo mulher.”

aqui de outra: “olha, viajar sozinha pra mulher é foda! vida toda fiz couchsurfing, encontrei gente boa, fiz amigo, fui a maior incentivadora desse rolê, mas essa noite foi um terror. ontem cheguei a napoli pra ficar numa casa onde vivem uma mina e dois caras, são amigos e dividem o espaço, achei que tava segura de ficar numa casa com mulher. tudo muito bem, comemos, bebemos, conheci os amigos deles, tudo lindo até umas 3h da madrugada, quando um dos caras começou a ficar instrasigente no “galanteio”. eu, hospedada na sala, não podia dizer “tchau, to indo dormir”, então fiquei lá fazendo sala, literalmente, pro cara. quando ele tentou uma aproximação física e eu saí, o homem me segurou e disse que não ia sair dali nem desistir porque ele “veramente” me queria. cara, eu disse umas 20 vezes pra ele sair e nada. quando já era quase 6h ele foi pro quarto, mas quem disse que foi dormir? nada! o cara ficou acordado e quando eu acordei as 9h ele tinha feito o meu café da manhã e me chamou pra comer como se nada tivesse acontecido. velho, vai se foder. esperei ele entrar no banho pra pegar a chave que tava no quarto dele, porque claro que ele tinha trancado a porta de casa. ou seja, eu fugi desse couchsurfing! meio sem saber pra onde ir, dei de cara com um hostel. subi pro quarto e encontrei um querido amigo que eu não via há anos, foi um alívio, uma alegria. meu dia mudou, abriu o sol e meu coração e eu sou bem grata ao destino, apesar dos pesares.”

O mundo ainda tem muito que melhorar. Por enquanto, nós vamos superando a raiva nossa de cada dia.

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